sexta-feira, dezembro 18

Essas tais lições


Fotografia de Bernardo Coelho



Meu pai dizia:
 Filho, já vão distantes aqueles anos
em que amar era ouvir estrelas, serenatas na janela

 então a janela abria, e ficava-se diante da deusa de tantos sonhos
e o encanto do momento, por si só, já era felicidade!
Olhei seu rosto, amassado pelas rugas e lhe abracei.
Rabugices, pensei...a vida não é bem assim.
Mas ele disse: 

Filho, a vida foi passando
Pela rapidez dos anos  os cabelos branquearam
mas ao meu lado a mocinha da janela
palmilha por tantos anos 

 e apesar do tempo  é ainda o bem querer
por quem minha alma se encanta

e os amores de verdade
 são eternos e não mudam com o tempo
somente a vida
 é efêmera e passa tão depressa!
E eu pensei: 

Bobagens desse velho!
Eu, que era menino
Pus meus sonhos no horizonte e imaginei que um dia lá também ia chegar.
Nao fiz serenatas mas mandei bombons e flores
E o encanto era a menina que comigo caminhava
atuante, engajada em

cada sonho que me ajudava alcançar.
Pensei que a vida seria perfeita

como a vida do meu pai
Pensei que sombras nao haveriam apenas dias bons e verdadeiros.

Exagerava meu velho quando me falava a vida?
Será diferente, pensei

Mas meu pai estava certo.
Hoje, trago no peito o soluço

das guerras que não ganhei
Não foi eterno o amor
me vejo sozinho na lida.
Já tenho na alma o cansaço 

porque me embrenhei na vida 
e a subida foi tao íngreme 
que nao me permitiu buscar
os sonhos que eu sonhei.
E enquanto escrevo meus versos
vejo um menino a correr...
Olhando para o menino, 

entendo agora o meu pai
Mas me demoro em pensares

quando dou por mim percebo que o moleque já cresceu
Tornou-se homem, é meu filho, vejo nele o sonho meu!
E se me ouvisse, eu diria:
Filho, nao ponha alto teus sonhos
no jogo que a vida faz  sinta o gosto da partida
O sonho ao alcance da mão...
Porque a vida acorda o tempo

e a desabalada corrida
te faz perder a canção.
Hoje, por certo este homem
Que longe, cansado vai
Chegaria ao pé do ouvido 

e diria ao seu pai:
Estava certo meu velho!

Ei, venha cá, meu filho!
-Ouça o que vou lhe dizer
escuta agora seu pai

que sonha o bem para você.
Vê se coloca seus sonhos
Aonde os possa alcançar!


E o menino... 

não ouviu
Olhou para mim e partiu.
Corre,

 voa, 
lá está ele aonde me ponho
Correndo atrás do sonho.
Talvez a maior herança

Que desta terra se leva
É a certeza 
que a vida plena 
 não é nesta terra.
Aqui tudo passa rápido
nem se consegue viver
Passam as flores
vem o outono
e o inverno chegará.
Mas a esperança da vida
é o que Deus prometeu
cedo ou tarde
ele virá!

Nenhum comentário: