sexta-feira, abril 23

Equacionar


Senhor
Não nasci para subtrair-me
e parar-me
fitando horizontes.
Queria ter o simples saber
de operar multiplicações
e transformar o mundo
ao meu redor.
Queria multiplicar bençãos,
fazer promessas que se cumpram,
somar amigos
e ser um oásis no deserto de muitos.
Não posso conformar-me
com as mazelas desta vida.
Eu ainda escuto os gritos que não saem
eu ainda vejo o homem caído na beira do caminho
eu choro todas as noites as dores do meu irmão.
Não cabe dentro de minha alma
o coração aflito
de nada poder fazer!
Reclamo sim
das bençãos que não possuo
porque  tudo o que me vêm
para fazer
e que a mim não cabe
me enche de impossibilidades
e eu fico querendo equacionar o mundo
para resolver os dissabores.
Falta-me apenas
os meios
porque o amor já tenho.
Falta-me apenas o modo
porque o que sobra em mim
são braços de sabedoria
com  espaços para abraços!
Mas eu preciso de Ti Senhor,
para ser minha luz
e refletir Teu brilho
em tudo que eu fizer.
Permita-me
o sabor de ser a diferença
nos dias tão iguais em que vivo.
Permita-me
ter a matemática da vida ao meu  dispor
para multiplicar horizontes
e mostrar que o amor
é infinito
e pode somar-se.
Faz brotar a vida em minha alma
para que eu seja
a mão que vai ao encontro
e restaura.
Dê sentido aos dias meus
para que seja um vaso
capaz de abrigar as flores
e perfumar o mundo.

terça-feira, abril 13

Gritamos


Perderam-se tantas vidas
naquela catástrofe.
Para tantos
os maiores presentes
ficaram caídos no chão.
Foi com a enchurrada os sonhos bons
e levou a vida
de tantos.
Talvez um dia
cada pessoa precise passar 
pelo seu vale de lágrimas
para entender a finitude da vida
para saber que aqui nada se limita
e o fim é inevitável.
Choram os bons e maus
neste dia de perdas
e soterrados estão os sonhos de muitos.
Na tragédia da vida
haverá sempre oportunidades
de ser bálsamo e lenitivo
de ser alegria e esperança
e fazer a diferença para alguém.
muitos porém,
não percebem que além de si
finda-se a vida.
Muitos há
que olham a paisagem
e se vêem nela pela eternidade
sem saber que a dor dói
que há um outro para dar a mão
que ao aflito
nunca basta o pão.
E vivemos atolados
em nossos sonhos finitos
buscando a perfeição das coisas
nessa imperfeição de mundo
que um dia o Salvador
restaurará.




quarta-feira, abril 7

Pai

Fotografia de Antonio José Fortes Figueiredo - Meu pai

Um dia fui o seu presente,
quem sabe.
Nem isso consigo perceber
tantos bloqueios em mim!
Talvez nunca tenha ouvido
a palavra que sonhei
ou pensei
algo que faria sentido.
Talvez fosse o seu jeito
de não dizer o que sente
de se sentir preocupado
mas nem saber expressar.
E desse jeito
calados nos sentimentos
foi que passamos lado a lado
pelo tempo que hoje
 vejo da minha janela
onde ainda te contemplo.
Passou a vida
e nunca falamos
das coisas do coração!
Pai eu cresci só
questionando se havia importância
 e aprendi que o amor
é raso
que a vida cobra impossíveis
e que nada faz sentido!
Quando pensava no Pai
te sentia tão distante
inexistente, talvez,
sempre te mandei para longe
e desse jeito
sempre achei que nada a meu respeito
importasse para você!
Mas hoje eu quero pensar
que um pai
por mais alheio
nunca conseguirá esse feito
de olvidar o filho seu.
Mas o sentimento
que me acolhe nestes dias
é uma ponta de tristeza
por nem saber o que pensar.
E vivo dividida
num sentir assim bloqueado
numa distancia natural
num pensar desordenado
nesse jeito que faz mal.
Será que um dia
não chorarei o instante
de perder o tempo todo
e nunca me resgatar?
Pai
é para mim a incógnita
o ser que eu desconheço
a equação que resultou
no vazio deste meu ser.
E enlouqueço
ao pensar
que a culpada fui eu...
Mas nem consigo
mudar-me
pois o tempo que passou
nunca mais irá voltar.
E a agonia
faz os versos meus fluirem
em total solidão
pintando de vazio
meu coração arredio
que jamais tentou mudar!

Vago

Fotografia de Lucas Rosa


Densa tarde de neblina
minha alma cinza
encobre os sonhos coloridos
que sonhei um dia.
De pensamentos vários
a pensamentos claros
vai a alma liberta
do poeta.
Segura era a estrada
de insegura vida.
Tantos eram os limites
e tantos os horizontes.
A importância maior
foi deixada tantas vezes
e passou o tempo
ou o momento.
Ficaram para trás
as palavras todas
nada do que havia para dizer
foi dito a tempo
e o tempo
deixou a vida
escrita em densas linhas
feito um dia
sem sol e com neblina
quando o bom que havia
eram flores
mas nem floriram.