terça-feira, janeiro 5

Testamento

Lamento,
mas a poesia morreu!
De um mal galopante,
sem cura,
Morreu!

Não houve avisos, nem pistas.
Sorrateira e sutil
a poesia partiu,
Deixou apenas em testamento,
talvez, o lamento
do mundo em que viveu.

Ficaram palavras gastas,
Clichês aposentados,
Sobraram restos usados
De alguma frase de efeito.
Restaram elogios a esmo,
Vazios,
E desencaixados, coitados!

Os poetas ainda não entendem,
Choram em filas,
Apertam-se as mãos e retrucam:
“Como?”...
Eram belas as paisagens 
e desbravadas foram,
Eram fortes os argumentos,
expressavam as dores todas,
também sentimentos.

E num instante
o mal galopante
Tirou da poesia a rima, a métrica
Tirou a estima, fonética
Arrancou a inspiração, 
Desestruturou a forma,
Secou-lhe a fonte,
E ela morreu.

A sós, o poeta e a mágoa,
Lastimam o momento
Sem jeito, sem sorte.
Pensam na morte,
essa coisa letal,
pensam na frieza
que, com certeza, virá.
E na dura sina,
Sem escolhas,
Chora o poeta.

“Deus, dê-me coragem
Para viver sem ela!”
“Como viver meus dias
vazios de poesia?”
“Preciso coragem para enfrentar-me.”
A cabeça pesa,
Entre mãos cansadas,
Busca ainda a palavra certa
para reinventar o poema.
Terá que reinventar a alma
- pobre poeta!

Hoje ninguém dormirá,
A madrugada prometeu ajuda,
A lua virá à caráter,
Para o resgate da poesia.
Há que se achar o tema perfeito
Que atinja o peito
Do bom sonhador,
Há que se ter paciência,
Porém,
Pois a morte não foi boato,
é fato.

O que fazer com essas letras
Que saltam mudas,
Com o pranto das vozes,
Como saber o escondido das gentes,
Ou com quem ficarão os poetas, 
quando a sós?

Vãs foram as tentativas,
Morreu a poesia ...
(Poetas, lamentem!)
- Abramos o testamento!


(Marisa e minha maninha Vanne )



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